Relatos feitos a quatro mãos, de UM que se divide em DOIS, ou de DOIS que formam UM. Depende de quem assiste, depende do cenário... Sendo a essência, no fundo, a mesma. A terceira geração do nosso diário de bordo. Um ponto de encontro, uma mesa de bar, um divã... um recanto pra dividirmos nossas experiências, fotografias, angústias, alegrias, conquistas, desesperos... Aqui, nós contamos nossas histórias. Aqui, vocês comentam, palpitam. Interativo. Via de mão dupla. Escambo.
Thursday, April 06, 2006
desconfio que dias de chuva me dao sorte....
Retrospectiva...
Chegamos a terra do tio Sam! Tudo eh novidade: o fogao eletrico (quem acompanhava nosso primeiro blog, sabe bem!), o ar-condicionado central, o yellow cab que nao pega passageiros na rua, a bebida alcolica que nao eh vendida aos domingos, a falta de ralo na cozinha e banheiro, a laundry compartilhada com os vizinhos, os dvds for free na public library, e por aih vai....
Eu, com meu ingles inexistente, tentando entender o que as pessoas falavam, mas na verdade, o que eu ouvia mesmo era quase um blablabla... Ah se eu tivesse dado ouvidos a minha mami e feito um curso de ingles... nao teria passado por isso... Mas sobrevivi. Minha sorte eh que ao menos ler em ingles eu sabia (apesar do meu vocabulario restritissimo!). Mas por quantas situacoes eu passei, quando sozinha a esperar pelo onibus, vinha alguem puxar papo comigo e eu nao conseguia entender nada que nao fosse o basico (e por basico, entendam: "de onde vc eh?", "qual seu nome?", " onde vc mora?", "voce estuda aqui?"... sentiram o drama, neh?!)??
O tempo foi passando e entrei no famoso curso de ingles (que fique registrado que famoso eh bem diferente de bom!) onde soh havia coreanos e afins, e onde o maximo que eu aprendi foi entender bem o ingles que os orientais falam - que eh praticamente um dialeto! O curso que era diario (mon-fri) nao me via com toda essa frequencia, jah que nao havia o que realmente me estimulasse a sair de casa. Claro, salvo nos 2 ou 3 primeiros meses, quando nem tv a gente tinha em casa e as unicas coisas que preenchiam meus dias eram o curso, a academia (sim, eu jah fui uma assidua frequentadora da academia!) e nao posso esquecer da Main Library, que me salvou com o acesso gratuito a internet - horas e horas no MSN.
Chegamos aqui em agosto de 2004 e ateh marco ou abril de 2005, meus dias eram "preenchidos" pelo curso de ingles, pela internet (nao mais na Library, e sim em casa) e por alguns livros, que eu tentava ler na marra, pra me familiarizar com a bendita lingua. Notem que nem listei a academia as minhas ocupacoes! Nao seria justo, estou aqui fazendo uma retorspectiva real dos meus dias em terra americana, e ninguem aqui acredita mesmo que eu vou a academia no inverno neh?!
Ah sim, nao posso deixar de registrar, que nossos primeiros meses aqui foram de secura completa! Torneiras fechadissimas! Comer fora? Soh mesmo free food nos eventos da universidade! Nem Mc Donald's rolava! E quando eu digo primeiros meses, entendam de agosto a marco (segundo meu marido, ele quis testar se meu amor por ele vencia a pobreza). Para se ter um ideia, nem carro nos iamos comprar. "pra que? a cidade eh pequena, tem onibus!" uhum, merecimento os dias em que iamos a peh ao mercado e voltavamos carregados de coisas pesadas ANDANDO por vias que mal tinham calcadas. Duros aqueles dias... Sem falar que dormimos no chao por uma semana, que compramos um pacotao de caixas de fosforo, e gastamos quase uma caixinha inteira na tentativa de acender o fogao.... ELETRICO! Mas disso tudo voces jah sabem...
Em Dezembro fomos ao Brasil, matar as saudades, curtir o verao e perceber que nossa casa agora eh aqui. Que por mais que nossa origem seja O Brasil, nos, agora um casal, pertencemos, por enquanto, a pequena e pacata Bloomington. Comecamos a valorizar as pequenas coisas do dia-a-dia, como uma noite jogados no sofa, comendo pipoca e assistindo tv. Em janeiro voltamos a nossa vidinha.
Decidi tentar um mestrado em Interior Design - a unica area mais proxima a minha, oferecida aqui na Indiana University. Gastei uma semana preparando um portfolio e fui a luta. Os professores pareceram gostar e disseram que agora era soh fazer o TOEFL e o GRE que eu estaria dentro. Fiquei feliz. Porem, ah porem, nem tudo sao flores. O mestrado de 3 anos nao oferecia bolsa no primeiro ano, ou seja, "no donut for me!" Plano por agua a baixo... Mas a vida segue, e a tempestade nao pode durar a vida inteira.
O fato eh que as coisas comecaram a melhorar quando fizemos nossa primeira viagem. Fomos a New York. Foi um passo importante em nossas vidas! Um passo rumo a uma vida com menos restricoes. Dois meses depois, em Maio, meu marido decidiu cumprir sua promessa e fomos a Europa!!! Eu parecia pinto no lixo! A vida estava comecando a melhorar...
Apos voltarmos da Europa, decidi nao mais ir ao curso, que jah atrapalhava mais que acrescentava. Decidi ficar em casa e ler mais, assistir mais TV (todos aqueles programas do HGTV) e treinar redacao pra prova do TOEFL. Foi o que eu fiz. E isso, acreditem, contribuiu em muito para a melhora do meu ingles. No meio do ano, meados de julho, decidi que precisava voltar a estudar e que o mestrado em Urban Planning seria fantastico, apesar da Ball State ficar a 200 km daqui. Fui lah, conversei com o coordenador do mestrado, pedi pra assistir as aulas dele. Assisti as aulas dele, duas vezes na semana (percebam que viajar 2 horas e meia pra chegar na universidade, assistir 1 hora e 15 minutos de aula e pegar mais 2 horas e meia de estrada nao eh atitude de um pessoa em sa consciencia), fiz todos os trabalhos, apresentacoes (Sim! Apresentei trabalhos lah na frente, com meu poor English) e o mid-term (no qual, nao sei como, por graca divina, fui muito bem). No meio do caminho, alguns acidentes, nao muito graves, me faziam repensar a loucura aque eu estava me propondo. Foi quando, apos dias e noites, de ponderacoes e conversas, conclui, a duras penas, que meu mestrado teria que ser adiado once again (a primeira vez foi no Brasil, que parei com o mestrado por motivo maior: a vinda pra Bloomington). Fiquei triste, deprimida, mas consciente de ter tomado a decisao mais acertada. Entrei em crise. "Se nao vou poder estudar, o que vou fazer da minha vida??" A esta altura, jah estavamos quase em Dezembro. Decimos que trocar nossos vistos era preciso. Acertamos que durante o periodo do Doutorado do Mauri, eu trabalharia, e quando ele comecasse a trabalhar, eu estudaria. Uma combinacao justa. Mais uma vez, em Dezembro de 2005 embarcamos pro Brasil, e desta vez ficamos quase um mes inteirinho. Foi otimo, um alivio pra saudade e uma escapada estrategica do inverno, que me pareceu pior este ano. Trocamos os vistos. Agora eu posso trabalhar. Posso pelo menos procurar um emprego. Eh chegado o novo desafio: como arrumar um trampo em arquitetura numa cidade que beira os 70 mil habitantes? Eh menor que a Tijuca! A verdade verdadeira eh que meu coracao bate forte pela arquitetura e que por mais que eu tenha outros interesses, nao consigo me desvencilhar deste carma que me acompanha. Nao ha a menor possibilidade de, pra passar o tempo, procurar um emprego no shopping. Nao ha! Eu achei que houvesse, mas logo caih na real. Percebi que nao conseguiria. Ateh conseguiria, se houvesse uma necessidade financeira, mas em nao havendo, um trabalho nada a ver seria mais um motivo pra depressao do que um paleativo.
Nosso quase um mes no Brasil foi maravilhoso! E mais uma vez percebemos que voltar pra Bloomington nao era um sacrificio (apesar da saudade, que eh cruel!), que aqui eh o nosso pouso. Chegando aqui, comecamos a tomar as providencias e ainda na mesma semana enviamos meu pedido de autorizacao de trabalho.
Meanwhile, comecei a assistir aulas de historia da fotografia (sou um tanto doente por fotografia) na IU. Interessante, mas muito impessoal. Aula dada com microfone e telao, num auditorio gigante. Bem diferente das minhas aulas na Ball State, onde a participacao era requisitada e os alunos eram em numero de 13 apenas. Mais uma vez, I gave up.
A esta altura, um desavisado que passa e le, pode pensar: "Nossa, que pessoa confusa e sem persistencia!". Mas nao, meu caro desavisado, a pessoa aqui sabe muito bem o que quer, e sofre por ainda nao ter encontrado o caminho que a leva ao que ela quer. Vai dando cabecada, procurando sempre! Mas se recusa a aceitar o que nao lhe dah prazer, o que nao lhe oferece estimulo.
Crise mais uma vez. Porem, esta crise me conduziu a uma procura mais obstinada pelo meu passatempo enquanto aguardava o work permit. Achei! Um curso de fotografia de verdade! E foi nele que eu encabecei e tive momentos daqueles em que nao se sente o tempo passar.
Para nossa surpresa, nao demorou um mes, e chegou meu work permit! UM MES!!! A previsao era de 4 meses! Calcula?!?!?! O nervosismo aumentou, a pressao aumentou! Era hora de encarar a realidade e a realidade era: Bloomingotn nao tem anuncios procurando arquiteto, Indianapolis tem! Mudar pra Indy?? Eu nao queria! Nao mesmo! Logo agora que temos amigos aqui? Nossa vida eh aqui... Comecei a fazer meus contatos e a mandar indiscriminadamente curriculos pra every single company here. Mesmo tendo sido alertada de que ninguem estava empregando ninguem no momento, mesmo nunca tendo visto um anuncio no jornal ou internet, mesmo assim mandei.
Na sequencia, fomos tirar meu Social Security Number. Virei uma pessoa! Nao sou mais apenas a esposa. Tao feliz!
Passei semanas dificeis, irritadica, estressada. O que salvava era o curso de fotografia e eh claro o apois da minha familia, do meu maridinho e dos amigos.
Ninguem respondia aos curriculos. Acho ateh que as empresas devem ter um latao de lixo, especial para curriculos. Eles devem ter um convenio com alguma recicladora. Nem um "thanks, but no"
Um belo dia, do nada, surge um anuncio no jornal de Bloomington. Mauricinho que achou! Inacreditavel! Fiquei de olhos arregalados! Principalmente porque foi um anuncio de uma empresa pra qual eu havia mandado curriculo fazia uma ou duas semanas. "Holly crap! Nao quero nem saber, vou mandar novamente!". Mandei!
Eu andava tao estressada que meu doce marido resolveu me levar pra passear na Disney, me tirar desse congelador e me fazer nao pensar muito na situacao. Em um dia organizamos tudo! Nosso Spring Break seria nas terras quentes de Orlando!
E eis que no dia seguinte recebo o mais inusitado email dentre os junkmails. Era o dono da empresa (empresa pequena, apenas 5 pessoas trabalhando) dizendo estar interessado em marcar uma entrevista comigo. Detalhe: isto era uma quinta-feira de manha, estavamos viajando na manha do dia seguinte! Foi um corre-corre! Descobri que tinha perdido meus arquivos de AutoCAD e comecei a corrida contra o tempo pra arrumar um portfolio. Chovia a cantaros lah fora.
Viajamos. Nos divertimos muito (isso ateh eu ficar doente). Voltamos pra casa, montei, aos trancos e barrancos, meu portfolio e liguei pro escritorio pra marcar a entrevista. A entrevista foi no dia seguinte (Dia de muita neve!).Foi boa, muito boa, eu diria. Adorei o escritorio, a atmosfera, as pessoas. E o arquiteto entrevistador pareceu ter gostado de mim. Mas nunca se sabe... Era uma terca-feira, ficaram de me ligar entre o fim da mesma semana e a outra. A outra semana chegou e nada! Mandei um email (a ansiosa, jah arrancando os cabelos). Recebi uma resposta no dia seguinte, o dono queria que eu fosse lah uma segunda vez para que eu mostrasse a eles minha proficiencia no AutoCAD. Minha primeira reacao foi: "beleza!". Mas no segundo seguinte lembrei "holly cow! Aqui eles nao usam escala metrica e eu nao sei nem como entrar com as medidas malucas americanas no CAD! Ferrou! Momentos de tensao! Mas eu tinha um dia inteiro pra treinar. E passei a quinta-feira inteira treinando. Sexta-feira chegou,chovia horrores, a entrevista era a tarde. Quem me conhece sabe que eu nao comi nada o dia inteiro! Nervosa! Fui e foi otimo. Fiquei soh uns 20 minutos no CAD e disseram que eu podia parar, porque estava na cara que eu tinha intimidade com o programa. Passei duas horas com o arquiteto me mostrando varios projetos, tecnicas construtivas (que diga-se de passagem, sao totalmente diferentes das do Brasil), e ateh o manual do empregado ele me mostrou (maldade!!!). Jah no final, veio o dono falar comigo, disse ter gostado muito do meu curriculo (???), do portfolio (???????) e que obviamente eu era proficiente no CAD. Mas, como a vida nao eh facil, ele completou: Eu devo entrar em contato com voce na proxima semana te dando um parecer. Oh vida! Eu devo merecer! "...te dando um parecer"????? NAAAAAAAAAAAAAAAAAAOOOOOOOOOO!
Tentei nao pensar muito no assunto. Brincamos bastante no fim de semana (jogamos disco no parque e ateh fomos a um espetaculo de canto e danca). Veio segunda e eu jah sabia que nao teria resposta tao cedo. Angustia. A bem da verdade, eu acreditava sim ter uma resposta positiva. Quem nao acreditaria, depois de tantos indicativos?!?!
Serah que vao esperar um dia de chuva ou de neve pra me darem uma resposta, pensei. Pelo visto eu atraio H2O, seja em que estado for, vide o dia do meu casamento. Espera, espera... E dizem que quem espera sempre alcanca... Serah? Serah que estou prestes a inaugurar uma nova etapa da minha vida? Casada e empregada? As perguntas pipocavam na minha cabeca,dias e noites. Ponderei o que poderia faze-los me contratar e o que os desistimularia. Mas nada me deixava segura, apesar de lah no fundo eu acreditar que esse emprego seria meu.
6 de abril, mais um dia de chuva...E eis que finalmente a espera terminou. O que eu tenho a dizer? Bom, digo que voces estao lendo (serah que aguentaram chegar ateh o fim?) um post da mais nova arquiteta brasileira empregada em Bloomington! O emprego eh meu!!! Que venha o Champagne!! O restaurante hoje eh por minha conta!
Ah sim, mas nao se animem muito, agora eh que vai ser barra pesada! Vou passar por um periodo de experiencia e ter que aprender - mais rapido que a velocidade da luz - todas as tecnicas construtivas e termos tecnicos americanos... Nada trivial... Como eu jah disse (acho que disse), arquitetura aqui eh bem diferente daih. Entao, nao parem de torcer!!!
Estou tao excited!!!! Detalhe, acabei de falar com o arquiteto dono do escritorio. Meu maridinho nao estah em casa, nem online! minha familia tambem nao! To euforica!! Cade as pessoas????? Hoje eh dia de comemorar!!!
Segunda-feira, dia 10 de abril serah meu primeiro dia! Detalhe (to cheia de detalhes hoje), exatamente um mes apos o primeiro contato do escritorio....
OPS! Maridinho acabou de aparecer online (10:30 AM)!!! Vou dar as boas novas!!
Putz, apareceu e sumiu! Estah vindo pra casa! Melhor, dou a noticia pessoalmente!!!
Ah sim, dias de chuva me dao sorte!!!
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5 comments:
Oi Erika,
Achei seu blog por acaso... mas parei e li este post imenso que vc escreveu!! :)
Adorei a maneira como escreve... e não poderia deixar de te dar os parabens pelo emprego!!
Pretendo voltar a passear por aqui outras vezes, tudo bem??
A proposito, sou arquiteta tambem...rsss
Um grande abraço,
Angel
Amiga,
parabéns. Te desejo Boa Sorte nessa nova jornada.
E o blog tá fofinho.
Bjos
;)
Oi Erika,
Parabens!!!! As vezes temos realmente que bater muito a cabeça pra encontrar nosso caminho....
Boa sorte, estou torcendo por vc...
Um grande beijo,
Cris
Uhu!!!! You rule, girl!
Ueba! Parabéns, moça! Boa sorte nessa nova fase trabalhadora.
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